A seguir apresentamos um trecho da entrevista:
No ano passado, a expectativa da Artech era crescer 15%. Quais foram os números finais?
O ano de 2006 foi muito bom para nós, e esperamos um 2007 melhor. Uma forma de mensurar é que estou viajando cada vez mais, a Artech cresceu cerca de 22%, e vem crescendo constantemente. Estamos contentes não apenas por isso, mas também porque as demais empresas associadas à Artech também cresceram.
Quais são essas outras empresas?
Existem empresas que alguns acionistas da Artech têm participação, além de outras que não temos envolvimento. Por exemplo, GXVision, que se encarrega de sistemas de faturamento digital (via rede fisica) e que neste momento está trabalhando para outras empresas que precisam de sistemas de faturamento a usuários - como telefônicas. Foi também um ano muito bom para eles. Outra é a que chamamos “a fábrica” que trabalha só com projetos GeneXus para clientes dos Estados Unidos, neste caso esperamos um crescimento de 100% em 2007.
A falta de profissionais qualificados e de técnicos com perfil comercial continua preocupando o setor?
A formação comercial é nosso ponto de maior fraqueza. Quanto à formação técnica estamos com desemprego zero, o que é bom de alguma maneira. O que está fazendo o LATU é um bom exemplo, e as universidades estão se envolvendo com o assunto. Temos que ficar de olho para que não haja desvio, mas do ponto de vista estratégico é isso. Na parte comercial não temos uma história de boa formação. Nesse sentido, temos uma carência que hoje representa uma das dificuldades para vender software no exterior. Existem poucos engenheiros de sistemas com vocação ou formação na área comercial. Cada vez que aparece algum, cuidamos dele como um tesouro, acredito que temos que trabalhar mais nisso.
O outro assunto sensível ao setor é o das licitações estatais…
Felizmente, isso está mudando. É muito melhor a situação hoje que há cinco anos, embora persistam certos reflexos que têm a ver com uma concepção equivocada do mundo tecnológico: “Como não quero arriscar, escolho o maior de todos porque é o mais seguro”. Com isso não concordo, no terreno tecnológico o maior não é o mais seguro.
Há muitos anos que das fileiras governamentais vem se falando da importância do setor tecnológico. Quanto existe de discurso e quanto de realidade?
Hoje acredito que há duas ou três coisas que vão ajudar muito. Uma é o assunto do governo eletrônico, para o qual se criou uma agência que dirigirá o relacionamento entre o governo e os cidadãos. O Uruguai não estava bem nisso, e agora começou a trabalhar.
O país tem a infra-estrutura adequada (banda larga) para levá-lo adiante?
Como toda coisa complexa é necessário desenvolver diversos itens ao mesmo tempo. A outra iniciativa do governo, que eu acho maravilhosa, é o plano Ceibal, mais conhecido como o projeto de um computador por criança, criado pela MIT. O objetivo do governo é poder entregar a cada escolar um PC.
Você acha viável?
Acredito que ao mesmo tempo é extremamente ambicioso e viável. Pessoalmente, adoro grandes sonhos, e tomara que este possa acontecer. Igualmente, como todo projeto tecnológico está cheio de riscos.
Além dos riscos, é uma iniciativa que pode chegar a questionar o destino dos dinheiros públicos que vão a um PC e não a um prato de comida…
É incrível como a maioria das pessoas diz isso. Primeiro, nem todas as crianças do Uruguai estão em situação de fome, e em segundo lugar, o que estamos dando é uma ferramenta para longo prazo.
No que pode afetar o setor um TLC com os EUA?
Geralmente, não temos muita relação com os tratados de livre comércio, porque o software se comercializa de uma forma razoavelmente livre entre os países e não há muita proteção das partes. A respeito da propriedade intelectual, tampouco há muito problema porque somos criadores e tudo aquilo que nos protege nos favorece. O que é complicado e discutido no mundo é o assunto das patentes de software. Existem muitas opiniões que o software não deveria ser patenteado; e me sinto bem próximo dessa linha.
Por que não deveria patentear-se?
Porque é tão difuso que poderia patentear-se qualquer tipo de coisa. Normalmente isto acaba em grandes firmas de advogados que compram patentes e litigam; lucrando com os processos sobre elas. Por isso, quando me falam de tratados de livre comércio, ligo a luz amarela no assunto das patentes de software.