José Elías foi um dos convidados VIP do XX Encontro GeneXus. Do seu Blog Eliax.com informa e convida milhões de pessoas a refletir sobre temas tecnológicos, oferecendo-lhes um espaço que nasceu como hobby e pelo gosto de explicar para onde se dirige o mundo em matéria de ciência e tecnologia.
Sua palestra "A singularidade tecnológica* e seu impacto nos negócios" atraiu um numeroso público na tarde de terça-feira, segunda jornada XXGX.
Sobre seu Blog, seu perfil profissional, o futuro das redes sociais e o desenvolvimento tecnológico uruguaio, trata esta entrevista do Montevideo.comm:
Em seu perfil de Eliax.com você se descreve como "vaticinador do futuro" e desse lugar você assessora empresas, ajudando-as a entender para onde vamos em matéria tecnológica. Como você se tornou um profissional desse tipo?
Eu diria que começou quando eu era uma criança. Morava na República Dominicana e depois morei nos Estados Unidos toda minha vida até 2001, e era o tipo de criança que ia todos os dias à barbearia da esquina da minha casa para ler o jornal, coisa que meus amigos não faziam. Eu adorava saber o último acerca de tudo. Depois comecei a escrever contos, e dava para ler a meus amigos, sobre o que eu acreditava que iria acontecer no futuro.
Depois aconteceram muitas coisas no meio, terminei nos Estados Unidos estudando na Universidade de Boston e aí conheci uns professores do Instituto Tecnológico de Massachusetts e de Harvard que me deram um trabalho assessorando empresas.
Eles me descobriram pela Internet, eu passava o tempo todo falando e respondendo perguntas, antes da Web. Naquele tempo meus amigos e minha família me perguntavam: "Diz aí, o que é tal coisa? Me explica isso" e eu explicava. Então com a chegada do e-mail começaram a me bombardear com perguntas e cheguei a um ponto que já não podia responder porque era demais. Aí decidi escrever um livro, só para minha família e meus amigos, que se chamou "Máquinas no paraíso", especificamente para lhes explicar todas as coisas que me perguntavam constantemente, sobre a tecnologia, a ciência, e tudo o mais. Minha família e meus amigos gostaram muito do livro e começaram a passar para outras pessoas, e isso, aumentou o meu trabalho em vez de aliviá-lo, porque cada vez mais pessoas me contatavam.
Aí decidi abrir o Blog, com o propósito inicial de que minha família e meus amigos próximos se informassem por aí.
Você escrevia pensando em chegar a um número reduzido de pessoas e deu um salto a milhões de leituras mensais. Como explica isso?
Acredito que todo mundo, independentemente de sua profissão, de seu grau de preparação acadêmica, tem curiosidade sobre este tipo de assunto. Nós nascemos naturalmente tentando entender as coisas, por isso o lema do Blog é "Para mentes curiosas". Às vezes o que acontece é que nos colégios ou nas Universidades não se fala destas questões às pessoas, simplesmente te preparam para uma tarefa técnica e pronto! Então acredito que o que aconteceu foi que o pessoal viu no Blog um lugar onde eles podiam se relacionar e entender as coisas.
Qual é sua formação acadêmica específica?
Sou o que se diz nos Estados Unidos um "computer engineer", que é ser tanto engenheiro de sistemas como designer de hardware; poderíamos dizer um "arquiteto de computadores". Isso é o que estudei, mas depois me especializei em sistemas distribuídos massivamente pela Internet, é isso que eu adoro.
A temática que você trouxe para o Encontro GeneXus como orador foi "A singularidade tecnológica e seu impacto nos negócios". Ao falar da singularidade tecnológica se coloca como uma mudança iminente, ao menos nos tempos em que a gente tende a pensar as grandes evoluções. Como você consegue explicar esse conceito quando tem que assessorar uma empresa?
A ideia é que comecem a pensar de uma maneira exponencial e não linear. O que isso significa? Até poucas décadas atrás, as empresas e os japoneses eram estereotipicamente os líderes dessa concepção, e diziam: "vamos fazer um plano de nossa empresa a 10 anos e daqui a 30 anos vamos fazer tal coisa". Isso, hoje em dia já não pode se fazer porque o mundo muda tão rapidamente que é impossível saber o que vai acontecer em 10 anos. O que sim sabemos é que vai haver muita mudança, então o objetivo é que as empresas entendam isso e vejam as tendências que estão acontecendo agora nos laboratórios de avançada, na pesquisa de software, para ter uma visão do rumo do assunto, e sobretudo não pensar que isto vai chegar daqui a 50 anos, vai chegar já, em breve.
Quanto à Web 2.0, você acha que surgiu em parte por essa busca, por esse frenesi no avanço tecnológico?
As pessoas querem participar. Quantas vezes você lia um jornal e dizia "ah, eu quero comentar"? Mas você se sentia impotente porque não podia publicar no mesmo jornal ou não se sentia com vontade de pegar o telefone e ligar porque nem sequer sabia se iriam lhe responder. A Web 2.0 permitiu que os conteúdos fossem gerados pelos mesmos leitores ou que estes interagissem com os geradores de conteúdo, isso surge precisamente de nossa curiosidade e de querer interagir.
E a cabeça das pessoas, está mudando? Porque quando você fala em singularidade, o avanço tecnológico vai da mão de uma mudança na forma de se pensar o mundo...
Sim, de uma mudança social. Acredito que o que está acontecendo agora é que mais do que nunca o famoso "melting pot" do que se falava há tanto tempo, de que todos vamos nos mesclar, finalmente está acontecendo. E acredito que isso vai ter grandes repercussões não só no plano tecnológico, mas também no plano social e na forma de ver o mundo.
Por exemplo, expus alguns artigos comentando as notícias de atrocidades que cometem alguns países, questões de direitos humanos, e são notícias que geralmente não nos chegariam, mas agora talvez pelo Facebook ou o Twitter, acontece que um amigo seu que mora num país "x" e acontece alguma coisa e aí você fica sabendo. E visto que existe uma relação pessoal com essa pessoa, você sente esses problemas ainda mais que se simplesmente você ouve a notícia: "mataram 100 pessoas na África". Se for um amigo que conta, aí a coisa muda.
Sustento a teoria de que independentemente de que organismos como a ONU, que não acredito que realmente façam muito, ou inclusive os governos, que fazem menos ainda, tentem unificar o mundo, embora eles não o façam de maneira metódica, acredito que de maneira caótica a mesma sociedade vai se integrar. E vai chegar um momento em que todo esse sentimento de mudança vai se traduzir numa mudança em nível governamental e político.
E você pode intuir até onde vai chegar esse assunto das redes sociais?
Acredito que, eventualmente, tudo vai chegar a ser em tempo real. E que vai haver uma integração dos nossos sentidos com os sentidos das outras pessoas. Isso é que, se eu estou sentindo alguma coisa e estou num bar, a outra pessoa imediatamente vai saber o que está acontecendo, e inclusive sem eu ter que twittar ou pô-la no Facebook, simplesmente estando aí. Tudo vai ser automático.
Filosoficamente você se perguntou por que se acontece essa escalada exponencial de tecnologia?
Não sei se do ponto de vista filosófico, mas é um produto natural da evolução mesma do universo. O que acontece? Se formos pensar no mais primitivo do universo em si, isso é a evolução. E não estou falando da evolução de que descendemos dos macacos e tudo o mais, isso é evolução biológica, eu falo de evolução generalizada. E a evolução por si mesma envolve provar muitas coisas diferentes e que as que sobrevivem continuem avançando mais. Esse conceito de que as coisas vão mudando e melhorando, implica naturalmente que como vão se fazer coisas cada vez melhores, elas irão ser feitas mais eficientes. Então, filosoficamente é um conceito intrínseco da evolução isto que está acontecendo, de que as coisas com o passar do tempo melhoram e devido a que há uma melhora também os tempos diminuem.
Como resultado de sua participação neste Encontro GeneXus, como você vê o avanço tecnológico no nosso país?
Sempre pensei que o Uruguai, inclusive a Argentina e o Chile, surpreendem com seu nível tecnológico. O mesmo exemplo é GeneXus; é uma plataforma que concorre com o melhor que pode oferecer o pessoal dos Estados Unidos: Google, Facebook; só que em outra rubrica, na rubrica empresarial. E isso é algo que muitas pessoas latino-americanas não aprendem a valorar, porque há um estereótipo de que o melhor do mundo está nos Estados Unidos ou na Europa, e se esquecem que nós temos pessoas valiosas.
Você conheceu o impacto do Plan Ceibal no Uruguai? É a implementação no Uruguai do programa One Laptop per Child
Foi feito? Que bom! Sempre falei que se eu fosse presidente, algum dia, minha prioridade número um e acima de tudo seria a educação. Porque quando você se educa é aí que você valoriza as outras pessoas, e você entende melhor os problemas da sociedade. As raízes, todo avanço tecnológico de qualquer nação tem que se embasar na educação.
(*)
"Singularidade Tecnológica, refere-se a um evento no tempo no qual irá acontecer uma ‘explosão de inteligência' por conta das Inteligências Artificiais (IA), que serão capazes de criar num ritmo exponencial outras IAs ainda mais avançadas, e essas outras mais avançadas, e assim sucessivamente numa explosão que fará que qualquer ser dessa época tenha o poder computacional e intelectual de toda a humanidade de hoje combinada". (eliax.com)