"O fato de que LibreFarm seja um programa feito com
GeneXus, que é uma ferramenta de produtividade, liberado com uma licença que
promove a produtividade permitindo que muitos programadores trabalhem nisto, vai
dar um grande empurrão a esta KB. Essa é a minha convicção", assegura Stenger.
Embora admita que se trate de um projeto a largo prazo, "porque vai levar tempo
persuadir as pessoas de que isto faz sentido".
Dentro do mundo empresarial não é comum esta decisão
que você tomou. O que você avaliou para dar este passo?
Não é fácil para uma empresa tomar a decisão de licenciar um
software proprietário como software livre. Somos uma empresa pequena e medimos
os riscos a nossa escala. Sabemos bem que não vai nos acontecer nada por liberar
a base de conhecimento (KB), pelo contrário, aumentamos nossas possibilidades
porue mais gente vai conhecer o produto. Conseguir captar a atenção já é um
valor agregado para nós. Por outro lado, isto atravessa fronteras rapidamente.
Tem sido trabalhado em diferentes países, e isto é um choque muito forte porque
abre possibilidades de associações com empresas em outros mercados. Com isto
aumentamos potencialmente a quantidade de programadores sem investir, porque
cada um se auto sustenta e sabe porquê colabora com LibreFarm. Estou assumindo
riscos, mas estão administrados. A confiança está na comunidade GeneXus, a qual
vai respeitar a licença e que também vai sentir-se entusiasmada porque este é um
bom projeto para trabalhar. Inclusive podem surgir outros porgramas baseados em
LibreFarm para outro tipo de comércios ou o mesmo programa traduzido a outros
idiomas, que deverão ser licenciados como software livre.
Por que você afirma que o software livre promove a
produtividade?
O software é copiável por
natureza, podem ser feitas mil cópias de um software sem a perda da qualidade.
Essa é uma virtude do software que não possuem outros produtos. Como o software
pode ser copiado, muitas pessoas podem dedicar seu tempo a estudá-lo e
melhorá-lo. Além disso, essas pessoas podem se comunicar. Então o fato de que
muitas pessoas possam ter uma cópia de um mesmo programa e o melhorem, é uma
grande vantagem que têm os programadores com respeito a outro tipo de
profissionais. O software livre respeita essa natureza do software e permite que
muitos programadores trabalhem a baixo custo.
A
indústria do software pode trabalhar bem baseada em software livre, com um
modelo diferente do que tem atualmente. Existem muitíssimas empresas que o estão
fazendo.
A engenharia do software tem problemas.
Há estatísticas muito conhecidas que dizem que mais de 60% dos projetos de
software não chegaram a completar-se nem em tempo, nem em orçamento. O software
livre vai impactar na produtividade do desenho de sistemas e já está impactando,
por exemplo as bases de dados PostgreSQL ? suportada por GeneXus ? tem um
desenho muito impressionante, uma funcionalidade grande e foi possível graças ao
software livre. Necessariamente o software livre vai modificar o ritmo no qual
se desenvolve até agora. Outra tentativa de melhorar a qualidade com que se
desenvolve o software é a tendência conhecida como extreme programming que se
aplica ao software proprietário, que propõe que todo código fonte esteja a
disposição de todos os programadores da empresa. Os modelos de nogócio vão
mudando. Claro que ninguém garante que tenha a vida resolvida. O software livre
é uma forma de trabalhar que tem verdades e haverá que explorar como funcionam
estas verdades em um mundo comercial. Em um mundo não comercial já se sabe que
funcionam muito bem.
Em que muda, desde o ponto de vista do seu negócio, a
publicação da KB?
O negócio continua igual:
temos clientes de consultoria, clientes de serviço. Um software deste estilo
permite oferecer serviços independentemente do fato de que se tenha liberado o
código fonte do programa.
Quer dizer que o seu negócio não está centralizado na
venda da KB senão nos serviços associados?
As
empresas de software vivem fundamentalmente dos serviços que recebem, não vivem
tanto das licenças. É algo difícil de demonstrar porque ninguém mostra seus
números tão facilmente, mas vivemos dos serviços agregados: das garantias, da
atenção telefônica, das visitas, da consultoria, dos cursos. As licenças, uma
vez por outra nos dão algum ingresso extra, mas o fundamental está nas
mensalidades que recebemos dos clientes pelos serviços de valor
agregado.
A crise que existe neste país (Uruguay)
tem contribuido também para a diminuição das vendas, mas no que nos
concentrávamos fundamentalmente era nos serviços.
Estou convencido de que nós programadores, vivemos melhor com os
serviços agregados que prestamos em relação ao software que construimos, de que
se temos que andar perseguindo os infratores das licenças proprietárias. O
negócio de farmácias é muito dinâmico. As condições para meus clientes estão
mudando permanentemente, por exemplo agora vão retomar parte do mercado mutual ?
e geram necessidades e me perguntam, pois sou seu programador de confiança. O
fato de que o código fonte esteja publicado não muda nada na relação de
confiança com meus clientes.
Ou seja, você diz: tenho uma base de clientes instalada
com as quais me vinculo por uma relação de confiança e vão continuar recorrendo
a mim.
Exato. Essa é a esperança. De fato não
acho que isto se modifique em absolutamente nada. Consultei alguns clientes com
respeito ao fato e a aceitação foi boa. Um cliente compra uma KB funcionando,
mas que necessariamente vai mudar. Se não muda é porque alguma coisa está
acontecendo com este negócio e a publicação de KBs dá mais valor ao
cliente.
No mundo comercial todas
as empresas de software estão em dívida com seus usuários, que sempre têm
necessidades maiores das que os programadores podem fornecer. O fato de que
tenha o código fonte só na sua empresa ?se bem é um direito que a lei lhe
garante- é ruim para o usuário, porque o usuário gostaria que esse programa
crescesse e que a sua empresa crescesse também. Se por algum motivo, não
oferecemos as mudanças que eles querem, com o licenciamento como software livre
estaremos oferecendo mais oportunidades para que outras pessoas possam
implementar essas mudanças. O que se gera é uma comunidade de pessoas
trabalhando em uma KB, que gravam as mudanças em um centro comum- neste caso o
GXOpen- numa versão oficial. O próprio fato de que haja muita gente vendo o
códiogo melhora o programa, beneficiando os usuários e também os programadores,
que vão adotar essas melhoras na sua base de conhecimento. O cliente pode
escolher comprá-lo de mim ou não.
Qual é a quantidade de clientes que têm LibreFarm?
Aproximadamente 100 usuários.
Alguém disse para você: "é uma loucura"?